Quando leio ou estudo livros de grandes nomes da literatura, logo surgem as perguntas: como aprender a escrever com escritores?
Além disso, pergunto: como Homero, Machado de Assis, Jane Austen e Stendhal aprenderam a usar as palavras com tanta perfeição?
Aprender a escrever com escritores significa entender como eles formaram sua base intelectual e como aplicam essas técnicas ao próprio processo criativo. É um método antigo, mas extremamente atual para quem deseja se comunicar com mais clareza, emoção e precisão.
Por isso, neste artigo, vamos conhecer como grandes autores dominaram a linguagem escrita e quais técnicas você pode adotar a partir de hoje.
1. Homero e a tradição oral: como escrever sem escrever
A escrita já existia no século VIII a.C., época atribuída a Homero, mas a tradição oral ainda era o principal meio de transmissão do conhecimento.
Homero não registrou seus versos. As histórias de Ilíada e Odisseia circulavam na voz dos poetas e bardos, passando de geração em geração até serem finalmente escritas.
O “treinamento” de um poeta naquela época incluía:
- Repetição constante dos versos aprendidos.
- Memorização de fórmulas fixas, úteis para manter o ritmo e a métrica.
- Recitação pública, desenvolvendo a voz e a narrativa oral.
Como aplicar hoje:
- Leia em voz alta trechos de obras que admira.
- Reescreva de memória um parágrafo lido.
- Memorize pequenos textos para ampliar seu vocabulário e melhorar a fluidez.
2. Machado de Assis: autodidata com disciplina de mestre
Algumas informações sobre alfabetização no passado chegam até nós por registros históricos, pesquisas e conjecturas. Machado de Assis (1839–1908), por exemplo, não teve educação formal completa; alfabetizou-se com ajuda de vizinhos e professores particulares.
Aprendeu francês sozinho, lendo dicionários e traduzindo livros. Seu domínio da escrita veio de:
- Leitura intensiva de clássicos
- Tradução como método de estudo
- Escrita frequente para jornais
Podemos seguir seus passos. Primeiro, escolha uma obra na língua original para traduzir, como Pride and Prejudice (Orgulho e Preconceito), que está em domínio público. Depois, pratique a escrita em diferentes gêneros.
Segundo, pratique a escrita em diferentes gêneros, confira a lista abaixo e escolha um para começar a desenvolver sua criatividade.
Gêneros de escrita para treinar:
Narrativos
- Conto – história curta, foco em um conflito central.
- Crônica – relato breve, cotidiano, com tom pessoal.
- Romance – narrativa longa, com desenvolvimento de personagens e enredo.
- Fábula – história com moral, geralmente com animais personificados.
- Mito – narrativa simbólica sobre origem ou deuses.
- Novela – intermediária entre conto e romance.
Poéticos
- Poema lírico – expressão de emoções (soneto, haicai, ode).
- Poema épico – narrativa heroica (inspirado em Homero).
- Poema narrativo – mistura de história e poesia.
- Elegia – tom melancólico ou de luto.
- Sátira em verso – crítica irônica ou humorística.
Dramáticos
- Peça de teatro – diálogos para encenação.
- Tragédia – drama de tom elevado, com destino inevitável.
- Comédia – drama de humor e crítica social.
- Monólogo dramático – discurso de um personagem só.
Argumentativos e ensaísticos
- Ensaio literário – reflexão pessoal sobre um tema.
- Artigo de opinião – texto persuasivo para jornal ou revista.
- Carta aberta – mensagem dirigida a uma pessoa ou instituição.
- Manifesto – declaração pública de princípios.
- Discurso – texto oral ou escrito para persuadir.
Epistolares e pessoais
- Carta pessoal – comunicação íntima.
- Diário – registro cotidiano de vivências.
- Memórias – recordações de uma parte da vida.
- Autobiografia – relato da vida inteira.
- Carta fictícia – escrita como se fosse um personagem.
Mistos ou experimentais
- Microconto – narrativa em pouquíssimas palavras.
- Prosa poética – texto em prosa com ritmo e imagens de poesia.
- Texto híbrido – mistura de narrativa, ensaio e poesia.
- Paródia – imitação humorística de outro texto.
- Pastiche – imitação respeitosa de um estilo.
3. Vamos aprender com escritores com educação formal sólida (mas ainda incompleta)
Nem todo mundo é autodidata. Muitos escritores, por outro lado, desafiaram as dificuldades e cultura de sua época. Vamos conhecer, por exemplo, um pouco como foi a educação de Jane Austen (1775–1817).
Jane Austen estudou brevemente em escolas internas e depois em casa com a família. Ela lia muito desde cedo. Percebemos, assim, a importância de ter livros em casa.
As técnicas de estudos foram as mesmas utilizadas por muitos escritores clássicos, como:
- Leitura e discussão com os familiares
- Imitação de estilos
- Escrita de pequenas peças e histórias.
A partir desse exemplo, entendemos os benefícios dos clubes de leituras e a prática de escrever histórias curtas para testar estilos.
Além dessa escritora, podemos aprender com Stendhal (1783–1842) que usou viagens como fonte de inspiração. Esse escritor estudou em escolas locais e ingressou na École Polytechnique, mas não se formou.
Ele construiu seu repertório escrevendo diários reflexivos sobre suas experiências. Então, podemos fazer o mesmo para aperfeiçoar nossa técnica de escrita.
Poderíamos mencionar vários escritores, mas só esses exemplos nos mostra padrões em comum entre eles, confira:
Padrões em comum que podemos aplicar hoje
- Leitura intensa de obras de referência — muitas vezes repetidas até a memorização parcial.
- Escrita como prática constante, seja em diários, cartas, artigos ou ensaios.
- Tradução e imitação como formas de absorver estilos e estruturas.
- Debate e oralidade para testar argumentos e narrativas.
- Interdisciplinaridade — arte, ciência, filosofia, religião e observação do mundo real eram combinadas.
- Memória ativa — recitar, reescrever, contar histórias sem olhar para o texto.
Conclusão: escrevendo como os mestres
Aprender a escrever com escritores é mais do que copiar técnicas. É absorver hábitos, rotinas e estratégias que moldaram suas vozes literárias.
Se você deseja escrever um livro, publique textos, domine a língua e encontre sua voz, em outras palavras, siga o caminho de quem já chegou lá.
Comece hoje: leia, traduza, escreva e discuta.
É assim que os grandes fizeram — e é assim que você pode fazer também.
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